Terapias complementares no manejo da dor pós-operatória

A dor aguda pós-operatória é uma condição clínica comum que, quando mal controlada, resulta em uma série de consequências negativas¹ (fisiológicas e psicológicas) que estão associadas a complicações, retardo na cicatrização de feridas, hospitalização prolongada e risco de dor crônica.² Ela requer uma abordagem baseada em evidência, planejada e multimodal.¹

Estudos sugerem que menos da metade dos pacientes submetidos à cirurgia relatam alívio adequado da dor pós-operatória. E cerca de 80% dos pacientes submetidos a procedimentos cirúrgicos sentem dor pós-operatória e a maioria dos pacientes refere dor moderada a intensa em algum momento durante a recuperação pós- operatória.³

Importância das terapias complementares no manejo da dor pós-operatória

O manejo adequado da dor é importante para obter bons resultados clínicos, garantir uma recuperação adequada e melhorar a satisfação do paciente. Porém, intervenções farmacológicas, por si só, podem não abordar com eficácia todos os fatores envolvidos na experiência da dor⁴ e o atendimento clínico pode ser melhorado por meio da introdução de técnicas não farmacológicas inovadoras para complementar as abordagens farmacológicas e atender à necessidade do atendimento mais eficiente⁵.

A medicina complementar ou terapias complementares (TC) são aquelas usadas como um complemento ou junto com as terapias tradicionais. O uso de terapias complementares remete à enfermagem com Florence Nightingal e seus relatos históricos sobre cuidados holísticos de enfermagem que incluíram o uso de calor, massagem, música e toque.⁶

Entretanto, apesar da literatura mostrar que as TC podem reduzir a dor, melhorar a funcionalidade e a qualidade de vida, nem sempre são implementadas.⁶ As TC que podem ser usadas como terapias adjuvantes na gestão de várias condições de dor estão descritas na tabela a seguir.

Tabela - Terapias complementares e controle da dor⁶

A medicina complementar tem sido estudada no contexto de condições, como musculoesqueléticas crônicas, lombalgia crônica, fibromialgia e osteoartrite.^7,8,9,10 No entanto, sua eficácia no cenário pós-operatório ainda não está bem estabelecida.¹¹ Entretanto, alguns estudos têm comprovado o uso de terapias complementares como adjuvantes no tratamento da dor aguda pós-operatória.⁵

Assim, o uso de terapias complementares (TC) para reduzir a dor aguda pós-operatória estão sendo usada e podemos encontrar vários estudos de revisões sistemáticas e meta-analises sobre TC, tais como: hipnose¹², música^13,14, acupuntura¹⁵, estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS)¹⁶, massagem terapeutica¹⁷, imagem guiada¹⁸. Alguns estudos do uso de TC como adjuvantes no manejo da dor pós-operatória estão descritos a seguir.

Hipnose - o efeito terapêutico de um estado hipnótico resulta nas alterações na percepção e atenção. As sugestões feitas durante uma experiência hipnótica pelo hipnoterapeuta (profissional de saúde) intencionalmente focam a atenção e direcionam a percepção¹⁹ a fim de atingir um objetivo clínico específico. Isto é, diminuir a dor, diminuir a náusea, reduzir a ansiedade, reduzir o sofrimento etc.²⁰

Acupuntura e estimulação elétrica nervosa transcutânea - a base de evidências para essas duas terapias não farmacológicas como adjuvantes aos tratamentos tradicionais para o controle da dor pós-operatóriatem sido um tanto fraca e controversa. Entretanto, revisões sistemáticas e meta-análises avaliaram eficácia da acupuntura como tratamento adjuvante para analgesia pós-operatória. Essas modalidades podem ser úteis como parte de um pacote para analgesia multimodal.^21,22

• Os resultados mostraram que a acupuntura e técnicas relacionadas reduziram significativamente a dor pós-operatória e o uso de opioides, sendo considerados adjuvantes eficazes para o controle da dor pós-operatória.^22,15
• Uma revisão sistemática encontrou evidência moderada da eficácia da estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) em configurações pós- operatória para reduzir a dor, o consumo de analgésicos, náuseas e vômitos.¹⁶

Musicoterapia - a música como uma intervenção existe em várias culturas há centenas de anos. Mas, recentemente, o uso dela em hospitais tem recebido maior atenção e interesse.²³ Permitir que o paciente ouça música pré-gravada é diferente de “musicoterapia”, mas essa “exposição à música” também tem valor como terapia adjuvante para controle da dor e redução da ansiedade.²⁴ A música é uma intervenção não invasiva, segura e barata que pode ser realizada com facilidade e sucesso em um ambiente hospitalar. Ela tem sido frequentemente investigada no contexto da recuperação de procedimentos cirúrgicos e vários ensaios clínicos randomizados mostraram efeitos positivos na recuperação pós-operatória dos pacientes.¹³

Massagem terapêutica - quando integrada ao tratamento farmacológico, a massagem pode ser útil no tratamento da dor aguda pós-operatória. A massagem é uma terapia adjuvante eficaz e segura em pacientes submetidos a grandes cirurgias. A eficácia da massagem em reduzir a intensidade e o desconforto da dor sugere que ela pode agir por meio de mais de um mecanismo. A redução da ansiedade mediada pela massagem pode ser um mecanismo importante na diminuição do desconforto doloroso e o componente afetivo da experiência dolorosa que está relacionado ao sofrimento.⁴

Imaginação guiada - muitos pacientes sentem ansiedade antes de uma cirúrgica, o que acarreta mais dor no pós-operatório. A imaginação guiada é uma intervenção fácil e de baixo custo que pode ser aplicada no pré-operatório por enfermeiras para reduzir a ansiedade pré-operatória e a dor pós-operatória aguda em crianças e adultos. Os hospitais devem avaliar a implementação de intervenções de imagens guiadas rotineiramente ou em pacientes com risco conhecido de ansiedade pré-operatória elevada ou dor pós-operatória.¹⁸

Conclusão sobre o uso de terapias complementares no manejo da dor pós- operatória

As TC podem ser utilizadas no gerenciamento de várias condições de dor aguda ou crônica. Estudos mostraram o uso das TC como adjuvantes no manejo da dor pós- operatória, e algumas evidências têm demostrado a sua eficácia na redução da dor aguda pós-operatória. Entretanto as TC nem sempre tem sido implementada como adjuvantes no manejo da dor pós-operatória.

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