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Antibiogramas comentados

A identificação microbiológica acurada, em tempo hábil, é fundamental para o auxílio no tratamento correto de infecções graves1. O microbiologista que trabalha nesse papel é de extrema importância na melhora do desfecho dos pacientes. Essa tarefa, no entanto, é difícil, uma vez que envolve integrar diferentes conhecimentos de forma organizada e racional. Esse artigo mostra exemplos de antibiogramas comentados, com o objetivo de mostrar como o microbiologista pode auxiliar em decisões terapêuticas que impactam o dia a dia. Neste artigo, comentaremos o uso dos antibiogramas à luz de casos clínicos


Caso Clínico 1

DSS, 55 anos, sexo masculino, com antecedente de doença oncohematológica, internado na UTI da Unidade de Transplante de medula óssea (TMO), em uso de cateter central evoluindo com febre e choque. Coletado hemocultura periférica e através do cateter.

Cultura aeróbia

  • Frasco de Hemocultura aeróbia periférica e de cateter: Positivo.
  • Bacterioscopia (Gram): bacilos Gram-negativo. 
  • Cultura: crescimento de bacilos Gram-negativo, lactose positiva, mucóide.
  • Identificação: Klebsiella pneumoniae.

Antibiograma
 

Antibiótico Categoria
Amicacina Sensível
Ampicilina Resistente
Cefepima Resistente
Cefoxitina Resistente
Ceftazidima Resistente
Ceftriaxona Resistente
Cefuroxima Resistente
Ciprofloxacino Resistente
Ertapenem Resistente
Gentamicina Sensível
Polimixina Resistente
Piperacilina-tazobactam Resistente
Imipenem Resistente
Meropenem (infecções não meníngeas) Resistente
Aztreonam Resistente
Ceftazidima-Avibactam Sensível

Notas: Testes para Detecção de Carbapenemases: 
  • Fenotípico:
  1. Método de Inativação do Carbapenêmico modificado (mCIM): Positivo 
  2. Método de Inativação do Carbapenêmico associado com EDTA (eCIM): Negativo
  • Imunocromatográfico: 
  1. KPC: Positivo
  2. NDM: Negativo
  3. OXA-48: Negativo
  4. IMP: Negativo
  5. VIM: Negativo
Comentários e discussão

O Teste de Sensibilidade aos antimicrobianos demonstrou resistência a diferentes classes de antimicrobianos, incluindo quinolonas, penicilina associada a inibidor de beta-lactamase, cefalosporinas, polimixinas e carbapenêmicos, mantendo sensibilidade a aminoglicosídeos e ceftazidima-avibactam. 

A resistência aos carbapenêmicos (ertapenem, imipenem e meropenem) em Enterobacterales pode ocorrer por diferentes mecanismos de resistência: alteração de permeabilidade associada a produção de cefalosporinase (AmpC e/ou ESBL), hiperexpressão de bomba de efluxo, e/ou produção de enzimas carbapenemases2,3.

A produção de carbapenemases é o mecanismo de resistência mais frequente dentre as Enterobacterales e novas drogas com atividade dependente do tipo de carbapenemase estão disponíveis para o tratamento destas infecções. Portanto, é altamente recomendado ao laboratório de microbiologia identificar se a resistência ao carbapenêmico é devido a produção de carbapenemase e qual tipo; serino ou metalo-β-lactamases (MBL) para direcionar o tratamento5.

Testes fenotípicos baseados em crescimento na presença de um antibiótico carbapenêmico (mCIM6), métodos de hidrólise que detectam produtos de degradação dos carbapenêmicos (Blue Carba7, Carbapenembac® -Probac8, MALDI-TOF) e métodos baseados em inibidores para diferenciar a classe das carbapenemases, por exemplo EDTA para detectar MBL (eCIM9, Carbapenembac Metalo® - Probac8), representam algumas das opções aos laboratórios de microbiologia. 

Neste caso clínico, foi isolado uma K.pneumoniae resistente a múltiplas drogas, incluindo os carbapenêmicos. O teste fenotípico demonstrou a presença de serino carbapenemases pois o método mCIM foi positivo e o eCIM (mCIM associado ao EDTA) foi negativo, sugerindo a ausência de MBL (classe B).

O teste imunocromatográfico com anticorpos monoclonais anti-carbapenemases KPC, NDM, IMP, VIM e OXA-48 confirmou tratar-se de uma serino carbapenemase do tipo KPC (Klebsiella pneumoniae carbapenemase; classe A)10


Caso Clínico 2

JPSS, 82 anos, sexo masculino, tabagista, diabético, com doença pulmonar obstrutiva crônica, internado na UTI da Pneumologia, com suspeita de pneumonia associada a ventilação mecânica (PAV). Realizada coleta de aspirado traqueal e encaminhado para cultura aeróbia.

Cultura aeróbia
  • Bacterioscopia: frequentes leucócitos, raras células epiteliais, numerosos bacilos Gram negativo.
  • Cultura: crescimento de bacilos Gram-negativo, lactose negativa, oxidase positiva.
  • Contagem: >1.000.000 UFC/mL.
  • Identificação: Pseudomonas aeruginosa.
Antibiograma
 
Antibiótico Categoria
Amicacina* (infecção sistêmica) Resistente
Ciprofloxacino Resistente
Cefepima Resistente
Ceftazidima Resistente
Aztreonam Sensível
Ceftazidima-Avibactam Resistente
Imipenem Resistente
Meropenem (não meningite) Resistente
Piperacilina/tazobactam Resistente
Ceftolozana/tazobactam Resistente
Polimixina Sensível

Notas: Testes para Detecção de Carbapenemases: 
  • Fenotípico:
  1. Método de Inativação do Carbapenêmico modificado (mCIM): Positivo 
  2. Método de Inativação do Carbapenêmico associado com EDTA (eCIM): Positivo 
  • Imunocromatográfico: 
  1. KPC: Negativo
  2. NDM: Negativo
  3. OXA-48: Negativo
  4. IMP: Positivo
  5. VIM: Negativo
  • *Amicacina: Nas infecções sistêmicas, o prescritor deve administrar aminoglicosídeo em conjunto com outro antimicrobiano ativo, por isso é importante o entendimento do perfil de resistência a este medicamento11.

Comentários e discussão

O teste de sensibilidade aos antimicrobianos demonstrou resistência a diferentes classes de antimicrobianos, incluindo amicacina, ciprofloxacino, cefalosporinas, penicilina e cefalosporinas associadas a inibidores de beta-lactamases e carbapenêmicos. O organismo isolado, no entanto, mantém sensibilidade a aztreonam e polimixina. 

Embora a produção de carbapenemases não seja o mecanismo de resistência mais frequente em P. aeruginosa, o número de isolados produtores de carbapenemases vem aumentando12. As MBL (classe B) encontram-se dentre as principais carbapenemases produzidas em P.aeruginosa e são enzimas que utilizam a molécula Zinco como cofator para exercer atividade hidrolítica sobre os carbapenêmicos, com exceção do aztreonam que se mantém sensível (quando não associado a outros mecanismos de resistência). Por utilizarem o íon zinco, sua atividade é inibida por agentes quelantes como ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA). Outra característica das MBL é não serem inibidas por inibidores de beta-lactamase, justificando o perfil de sensibilidade encontrado13.

Dentre os testes fenotípicos recomendados para detecção de carbapenemases em P. aeruginosa encontram-se: o mCIM6, Blue Carba7, Carbapenembac® -Probac8, MALDI-TOF e métodos baseados em inibidores para diferenciar a classe das carbapenemases, por exemplo eCIM9 e Carbapenembac Metalo® - Probac8.

Neste caso clínico, o teste fenotípico demonstrou a presença de uma carbapenemase do tipo MBL, pois o método mCIM foi positivo e o eCIM (mCIM associado ao EDTA) também foi positivo. 

O teste imunocromatográfico confirmou tratar-se de uma MBL do tipo IMP (imipenemase metallo-β-lactamases), justificando a resistência à ceftazidima-avibactam e ceftolozona/tazobactam13f


Conclusão

Os dois casos clínicos representam pacientes que são atendidos diariamente em unidades de terapia intensiva. Observamos cada vez mais a emergência de cepas de organismos multirresistentes, causando infecções graves. A luta contra estas infecções é multidisciplinar e o microbiologista tem um papel central na detecção desses patógenos fornecendo informação essencial para o direcionamento do tratamento correto dessas condições. O desafio que nos é imposto vai além da realização e interpretação dos resultados dos antibiogramas, mas passa também pela comunicação adequada destes e integração com a equipe clínica. Dessa forma, a atualização contínua do microbiologista é uma importante ferramenta na melhora dos desfechos dos pacientes.

Referências Bibliográficas
1. Morency-Potvin P, Schwartz DN, Weinstein RA. Antimicrobial Stewardship: How the Microbiology Laboratory Can Right the Ship. Clin Microbiol Rev. 2016 Dec 14;30(1):381-407.
2. Castanheira M, Deshpande LM, Mendes RE, et al. Variations in the Occurrence of Resistance Phenotypes and Carbapenemase Genes Among Enterobacteriaceae Isolates in 20 Years of the SENTRY Antimicrobial Surveillance Program. Open Forum Infect Dis. 2019 Mar 15;6(Suppl 1):S23-S33. doi: 10.1093/ofid/ofy347. PMID: 30895212; PMCID: PMC6419900.
3. Bush K, Jacoby GA. Minireview Updated Functional Classification of β- lactamases. Antimicrobial Agents and Chemotherapy. Mai,2010; p.969-976. 
4. Tamma PD, Hsu AJ. Defining the Role of Novel β-Lactam Agents That Target Carbapenem-Resistant Gram-Negative Organisms. J Pediatric Infect Dis Soc. 2019 Jul 1;8(3):251-260.
5. Bonomo RA, Burd EM, Conly J, et al. Carbapenemase-Producing Organisms: A Global Scourge. Clin Infect Dis. 2018 Apr 3;66(8):1290-1297. 
6. Pierce VM, Simner PJ, Lonsway DR, et al. Modified Carbapenem Inactivation Method for Phenotypic Detection of Carbapenemase Production among Enterobacteriaceae. J Clin Microbiol. 2017 Aug;55(8):2321-2333.
7. Pires J, Novais A, Peixe L. Blue-carba, an easy biochemical test for detection of diverse carbapenemase producers directly from bacterial cultures. J Clin Microbiol. 2013 Dec;51(12):4281-3. 
8. Cordeiro-Moura JR, Fehlberg LCC, Nodari CS, et al. Performance of distinct phenotypic methods for carbapenemase detection: The influence of culture media. Diagn Microbiol Infect Dis. 2020 Jan;96(1):114912.
9. Sfeir MM, Hayden JA, Fauntleroy KA, Mazur C, et al. EDTA-Modified Carbapenem Inactivation Method: a Phenotypic Method for Detecting Metallo-β-Lactamase-Producing Enterobacteriaceae. J Clin Microbiol. 2019 Apr 26;57(5):e01757-18.
10. Tamma PD, Aitken SL, Bonomo RA, et al. Infectious Diseases Society of America 2022 Guidance on the Treatment of Extended-Spectrum β-lactamase Producing Enterobacterales (ESBL-E), Carbapenem-Resistant Enterobacterales (CRE), and Pseudomonas aeruginosa with Difficult-to-Treat Resistance (DTR-P. aeruginosa). Clin Infect Dis. 2022 Aug 25;75(2):187-212.
11. Brazilian Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing (BrCast). Tabela de Ponto de Corte para interpretação de CIMs e diâmetros de Halos. 2023. 
12. Yoon EJ, Jeong SH. Mobile Carbapenemase Genes in Pseudomonas aeruginosa. Front Microbiol. 2021 Feb 18;12:614058. 
13. Bush K, Jacoby GA. Minireview Updated Functional Classification of β- lactamases. Antimicrobial Agents and Chemotherapy. Mai,2010; p.969-976. 

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